"Nunca foi tão importante fazer e pensar arte. Justamente quando tudo parece ter perdido relevância, quando a criação se torna tão desencantada, sem propósitos históricos, estéticos ou políticos, é a hora de se voltar à arte como fruição pura e simples. Fazermos arte pela necessidade pessoal de cada um, por uma possibilidade de transcendência, individual que seja. Eu acredito na transcendência da arte e na força multiplicadora que ela tem. Foi ela, para dizer o mínimo, que me possibilitou uma mobilidade social."
(Romulo Froés, em uma entrevista concedida a Folha Ilustrada no início de junho de 2011)
Por muitos dias tenho andado cabisbaixo Confuso, perdido meio pra baixo Fui a um curandeiro chamado Damião Lá em Pinhais bem fora de mão
Me ensinou a verdadeira essência da natureza Pra que serve o que, pro amor, pra dor e pra beleza Queria que eu provasse poção por poção Já falei logo de antemão:
Damião, pare com esses chás Seus rituais são mais chatos que jazz Estou ficando cada vez mais down Não sei se agüento mais algum round
Açafrão estimula o pecado Fala de santo Inácio, estimulante de libido Para a mulher que quer ter criança Algas vermelhas, sopa erótica da cultura chinesa
Agnocasto, o arbusto dos conventos Ofélia a erva sofrimento Hipponames incendeia um amor violento Beladona, das bruxas é ungüento
Damião, pare com esses chás Seus rituais são mais chatos que jazz Estou ficando cada vez mais down Não sei se agüento mais algum round
Sonhos lascivos dos filtros do amor Eucalipto, a arvore que prelúdia o calor Barbatimão adstringente vaginal Batel embriaguez do próprio pau Tabaco, erva lustral e exorcista Mamona pra matar nazi-fascistas Brionia preta, erva de mulher de malandro Agaricus, a carne dos deuses e santos
Damião, pare com esses chás Seus rituais são mais chatos que jazz Estou ficando cada vez mais down Não sei se agüento mais algum round
Cânhamo, a planta feminina provoca o tal barato Alecrim cura qualquer trago Coentro regulador de menstruação Amanita, amuleto da alucinação
Gengibre desperta o fogo interno Urtiga queima como inferno Erva doce sensação de leveza Lírio, o símbolo da pureza
Damião, pare com esses chás Seus rituais são mais chatos que jazz Estou ficando cada vez mais down Não sei se agüento mais algum round
E depois de tomar todas as poções Cheguei a uma conclusão muita sádica Por mais que busque soluções A vida será sempre sarcástica
Sempre notei como nós, brasileiros somos poucos ligados a cultura latino americana, viajando por alguns países desta região nota-se como o Brasil é isolado culturalmente dos seus vizinhos. Isso é lamentável tendo em vista a beleza da diversidade cultural latino americana, o quanto deixamos de absorver de filmes, teatros, livros e música.
Neste contexto, a pouco tempo atrás conheci uma banda uruguaia que me inspirou, me encantou e me surpreendeu: El Cuarteto de Nos. E hoje ouso a dizer que é uma das melhores bandas americanas que já ouvi. E ouso mais ainda em dizer que nos últimos 5 anos (pra não dizer 10 anos) não vi letrista melhor que Roberto Musso; compositor da banda.
A banda El Cuarteto de Nos iniciou-se nos anos 1980 e chamou atenção por se vestirem com papel alumínio e bolas na cabeça, além de suas letras engraçadas, debochadas e sarcásticas. Por acaso não seriam eles os Mamonas Assassinas latinos??
A partir de 1994 com o álbum Otra navidad en las trincheras eles se tornam a banda de rock uruguaio a mais vender discos no país. Mas somente em 2007 que eles atingiram um público “continental” ao ganhar o Grammy Latino com seu 11ª álbum, o excelente Raro (2006)
Eu disponibilizo aqui no blog o seu ultimo álbum de estúdio, Bipolar (2009); após o lançamento de Raro, a banda passou por uma evolução musical muito intensa, se adequando ao cenário indie mundial. O álbum Bipolar mostra o quanto a banda mistura ritmos que vão do rock n’ roll ao flamenco, mas claro que o que mais chama atenção como sempre são as letras que formam um álbum conceitual.
Como o nome já diz, o disco mostra a luta de um homem na tentativa de buscar sua identidade, lidando com a sua bipolaridade, em uma sistema que tenta expelir sua personalidade.
Na primeira música Bipolar, ele luta por uma identidade, a busca pelo alter ego; o Super Homem do Clark Kent. Na segunda música Miguel Gritar – ele se compara com pessoas da alta sociedade, e se vê humilhado por seu chefe (já conheço essa novela).
Na terceira faixa El Hijo de Hernandez (talvez a melhor música do álbum) ele é confundido com outrem que está sendo procurado. Aí ele luta pela sua identidade e mostra o orgulho que tem de ser quem ele realmente é. O disco vai seguindo com Malherido (Sofrido) e ele fala dos problemas que enfrentamos na vida que nos deixam mais fortes e mais ásperos, formando nossa personalidade.
Na 5ª faixa Nada me da satisfacion – ele entra em uma depressão, onde nada na vida faz sentido:
“Ni ver gente en el cadalso, en la CNN ni entrar con nombre falso en el MSN ya sé, yo voy, en otra dirección pero mi paciencia ya está en vías de extinción”
A 6ª faixa Mi Lista Negra – ele resolve se vingar de todos que lhe causaram sofrimento e faz uma lista com suas vítimas:
“En mi lista está esa,
la que no volvió diciendo "voy al baño y ya vuelvo"
y está ese que se fue con lo prestado diciendo "ya te lo devuelvo"
A nadie absuelvo, ni soy complaciente,
en mi lista hay incluso algún pariente
y la maestra demente que me dio aguardiente en el kinder
mi lista es mi confidente y es valiente como la de la Schindler
Hay gente del jet set, un cuadro de Monet
una marca de champaña y cabernet, está Ortega está Gasset
no es por meter cizaña pero en mi lista no hay reset,”
A 7ª musica Doble identidad é linda; para poder viver em um mundo repleto de mágoas e sofrimento, o personagem inventa uma outra realidade e vive em um mundo de fantasia (esquizofrenia), onde ele é um super herói que luta contra aqueles que causam o sofrimento alheio:
“Y vivo en silencio, no tengo vida propia La soledad, de los heroes como yo es inevitable
Soy el que sube y vuela sobre la ciudad No te preocupes yo velo por tu integridad Capa y espada y un mundo para salvar Esta es mi vida y no preciso mas y no preciso mas”
Com uma melodia e um interpretação ingênua torna esta musica tão emocionante quanto uma criança brincando de super herói.
Assim se segue o álbum inteiro até chegar na ultima faixa Breve descripcion de mi persona – ele mostra como o sistema nos trata como um número da estatística tentando nos tirar a identidade. Nesta musica ele fala de toda a sua personalidade e no refrão explica:
“Não sou tão esperto para fugir,
Nem para ser preso aqui em silencio
Porque não sou tão simples para não avisar
Que não são três minutos, nem cem palavras
Que podem me definir”
É pouco ou quer mais? Tem mais!!! Não falei ainda de seus clipes, que como as músicas são ácidos e engraçados. Só vendo e ouvindo pra saber!
Este Clipe de El Hijo de hernandez, seria um deboche das dancinhas da Lady Gaga??
Seria uma mistura de Michael Jackson Thriller com Daft Punk - Around The World??
No clipe de Me Amo, é mostrado um egocentrismo absurdo, provocando uma tremenda pancadaria entre o integrantes da banda!
Amigos, companheiros, seguidores do blog Gugagumma, eu vos apresento uma banda que foi muito representativa em Santa Catarina nos 80. Antes do surgimento de Dazaranha em Florianópolis nos anos 90, a maior e principal banda “barriga verde” era Expresso Rural.
Fundada em 81 nos festivais de musica estudantil, a banda se destacou pela mistura de rock rural, pop, progressivo e música country com as lindas letras e melodias de Daniel Lucena; o próprio Moriel (compositor do Dazaranha) o considera até hoje o principal compositor catarinense.
Em 83 sai seu primeiro álbum Nas Manhãs do Sul do Mundo.
Cada dia que passa é um dia a menos São idéias a mais Conhecimentos serenos Será que somos capazes?
Nos reunimos para festejar Estamos vivos, Sim, estamos vivos Vivemos cada segundo
Através da arte da amizade Pintando o amor E cantando a paz
Por isso essa canção é pra vocês Que agora fazem parte de mim E eu de vocês
Esta poesia dedico aos meus amigos que me abrigaram desta fria cidade chamada Curitiba: Tiago Valério, Joana Rizzolo, Bruna Nascimento, Igor Moura, Walkir Fernandes, Marcos Marciano. foto por Tiago Valério boaviagem. gugagumma.
